sexta-feira, maio 26, 2006

Meu livro que não saiu

Ontem ia à padaria e esbarrei com meu livro que não saiu. Ele vestia falta de banho, com manchas de cinza em tons de marrom. Meu livro que não saiu me pediu uma esmola. Não tinha moeda. A gente devia é dar tudo, a carteira, a roupa do corpo, ficar só de cueca e ainda pedir desculpa. Mas a gente é duro. Só uma moeda, senhor. A culpa não é minha, eu votei certo, quer dizer, quem imaginava que esses caras iriam cagar tudo? Meu livro que não saiu fez um olhar esquisito, quase vago, quase perdido. Que espécie de assombros invisíveis estaria sentindo? Voltou das trevas em segundos. Pensei: o que vem agora? Mas não veio. Disse ao meu livro que não saiu que ia até a banca comprar o jornal do dia, ver as últimas nojeiras. Aí sim, teria um bom trocado. Acabei por pagar-lhe um almoço. Depois do que li na manchete, era o mínimo.

Enquanto ele garfava um naco de carne, pensei em amigos.